Há danos materiais em seis cidades, segundo o Ministério do Interior. Vários meteoritos foram encontrados em terra. Não há relação com o asteróide que passa nesta sexta-feira perto da Terra.
Vários fragmentos do meteoro que entrou esta sexta-feira na atmosfera, sobre a Rússia, atingiram o solo na região de Cheliabinsk, a leste dos montes Urais. A passagem do meteoro fez cerca de 1100 feridos, segundo a agência russa Interfax.
“Houve dezenas de fragmentos consideravelmente
grandes, alguns dos quais chegaram ao solo”, disse o ministro russo das
Situações de Emergência, Vladimir Puchkov, citado pelo agência. “Equipas
especiais de cientistas estão no local a estudar estes fragmentos.”
Os
habitantes de Cheliabinsk foram surpreendidos durante a manhã por um
rasto incandescente a cruzar o céu, seguido de um intenso clarão. Uma
grande explosão ouviu-se depois, partindo vidros, danificando coberturas
e fazendo disparar os alarmes dos automóveis. Muitos dos feridos foram
atingidos por estilhaços dos vidros.
A zona mais afectada fica
perto da cidade de Cheliabinsk. O estado de emergência foi declarado em
três distritos da região. Entre os feridos estão, segundo a agência
Itar-Tass, 82 crianças. Segundo a Interfax, 43 feridos, 13 dos quais
crianças, permanecem hospitalizados.
Uma
fonte do Ministério do Interior russo citada pela AFP refere estragos
materiais em seis cidades. A agência RIA Novosti diz que foram atingidas
três regiões da Rússia e do vizinho Cazaquistão.
"Informações
verificadas indicam que foi um meteoro que se incendiou quando se
aproximou de Terra e se desintegrou em pequenas partes", disse Elena
Smirnykh, do Ministério das Situações de Emergência, citada pela RIA
Novosti. Segundo a agência espacial russa, Roscomos, deslocava-se à
velocidade de 30 quilómetros por segundo.
A Roscomos informou que é difícil prever este tipo de ocorrência.
"Segundo a informação disponível, o objecto não foi registado pelos
sistemas de observação espacial russo ou estrangeiros devido às
características especiais da sua movimentação. A entrada destes objectos
na atmosfera é acidental e difícil de prever."
O Governo diz que não há danos nas unidades militares existentes na região. Os prejuízos materiais terão sido provocados sobretudo pelas ondas de choque de uma explosão, audível em vários vídeos que captaram a ocorrência.
Testemunhas na cidade de Cheliabinsk ouvidas pela Reuters dizem ter visto, às primeiras horas da manhã, objectos brilhantes a caírem do céu. Ouviram estrondos, sentiram edifícios a abanar e os alarmes de carros dispararam na mesma altura. "Definitivamente não foi um avião [em queda]", disse um responsável da protecção civil, ouvido pela agência Reuters, pouco depois da ocorrência.
No Youtube há diversos vídeos filmados a partir de carros em movimento que mostram claramente a passagem do meteoro, como um objecto muito luminoso, a grande velocidade, e que provoca um grande clarão, deixando um rasto de fumo à passagem. Num dos vídeos vê-se ainda o que parece ser a desintegração do meteoro em partículas mais pequenas.
Não há qualquer relação deste episódio com a passagem do asteróide DA14,
que se aproxima nesta sexta-feira da Terra e poderá ser visto com
binóculos. “Não há ligação com isso”, diz Rui Agostinho, director do
Observatório Astronómico de Lisboa. O mais provável é que o meteoro
russo venha da cintura de asteróides localizada entre Marte e Júpiter,
que é a origem da esmagadora maioria de corpos celestes que chegam à
Terra.
Filipe Pires, do Centro de Astrofísica da Universidade do
Porto (CAUP), concorda que este fenómeno não estará relacionado com o
asteróide DA14. “É uma coincidência”, acredita, confirmando que ainda
assim estamos perante algo que é muito raro.
Uma "estrela cadente" mas mais perto
O investigador refere que ainda há poucas informações precisas sobre o que se passou. No entanto, adianta que tudo indica que se tratou de um meteoro com cerca de um metro que causou uma onda de choque quando entrou na atmosfera e se desfez. O que se terá passado na Rússia, simplifica Filipe Pires, é o resultado do que normalmente chamamos “estrela cadente” mas maior e mais perto.
O investigador refere que ainda há poucas informações precisas sobre o que se passou. No entanto, adianta que tudo indica que se tratou de um meteoro com cerca de um metro que causou uma onda de choque quando entrou na atmosfera e se desfez. O que se terá passado na Rússia, simplifica Filipe Pires, é o resultado do que normalmente chamamos “estrela cadente” mas maior e mais perto.
As estrelas cadentes que
vemos a riscar o céu são como grãos de areia que passam a cerca de
80/90 quilómetros de altitude, explica. Esta teria cerca de um metro e
entrou na atmosfera. Quando penetrou na parte mais densa da atmosfera,
desfez-se e provocou as várias ondas de choque que vemos nas imagens de
vídeo amador que estão a ser mostradas na Internet.
Filipe Pires
ajuda-nos a ter uma imagem aproximada do que aconteceu: “É como o que
acontece quando damos um mergulho na água, provocamos aquelas ondas. A
água, neste caso, é a atmosfera. Mas não tocámos o fundo da piscina, que
seria a Terra.”
Na interpretação de Rui Agostinho, a explosão que
se ouve claramente em diversos vídeos corresponde à passagem do meteoro
pela barreira do som, e não ao intenso clarão que se vê nas imagens. Um
meteoro, explica o investigador, entra na atmosfera a uma velocidade
hipersónica – de milhares de metros por segundo – e vai travando até
chegar ao limite da velocidade do som (340 metros por segundo). “Neste
momento, ocorre uma explosão sónica”, afirma. “É o contrário dos
aviões.”
Pelas imagens, Rui Agostinho acredita que o meteoro
ter-se-á dividido em vários fragmentos, que provavelmente terão atingido
o solo. Só quando se encontram fragmentos no solo é que se fala em "meteoritos".
Um blogger russo, Ilya
Varlamov, reuniu no blogue alojado na plataforma Livejournal (a mais
popular na Rússia), um conjunto de vídeos, imagens e testemunhos
publicados online (disponível aqui,
em língua russa). Algumas das imagens testemunham a destruição
provocada pelas ondas de choque. Em alguns vídeos é bem audível o que
parece ser uma explosão seguida de vidros a partirem-se. Outro vídeo
mostra o medo de estudantes que se encontravam numa escola.
Araripe Informado
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