Brasília
A pedido do governador da Bahia, Jaques Wagner, integrantes da Força
Nacional estão sendo enviados para Buerarema (BA), cidade de cerca de 18
mil habitantes, a 237 quilômetros de Salvador, onde índios tupinambás
ocuparam 35 fazendas desde o início do mês. Os primeiros policiais da
tropa federal chegaram ontem (18) à cidade.
Inicialmente, os
integrantes da Força Nacional vão permanecer em Buerarema até 27 de
agosto, com o objetivo de garantir a segurança local e prevenir o
agravamento dos conflitos entre índios e produtores rurais. O prazo, no
entanto, pode ser prorrogado. A Força Nacional já atuou no município
entre abril de 2012 e maio de 2013.
A ocupação de fazendas foi a
forma que os índios encontraram para pressionar o governo federal a
acelerar a conclusão da demarcação de uma reserva indígena de 47 mil
hectares. Um hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o
equivalente a um campo de futebol oficial. A área abrange parte dos
municípios de Buerarema, Ilhéus e Una.
Embora já viessem
ocorrendo desde o início do ano, as ocupações indígenas se
intensificaram ao longo das últimas semanas, provocando a reação não só
dos donos das fazendas ocupadas, mas de outros segmentos que se sentem
afetados pela reivindicação dos índios.
Na última semana,
produtores rurais fizeram protesto pela desocupação das propriedades
invadidas. Ao bloquearem a rodovia federal BR-101 por cerca de dez
horas, a manifestação fugiu ao controle. Equipamentos públicos e ao
menos uma agência bancária foram depredados. Veículos oficiais foram
incendiados entre eles um carro que transportava quatro índios, sendo
duas crianças, de Itabuna para Pau Brasil.
No mesmo dia, o
governador baiano pediu ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a
presença da Força Nacional e reforço de efetivo da Polícia Federal.
Segundo o governo da Bahia, com o acirramento dos ânimos e o crescente
risco de novos confrontos, Jaques Wagner avaliou que o reforço federal
seria necessário, já que as policias estaduais não têm autoridade legal
para atuar em conflitos indígenas. Mesmo com a chegada das tropas
federais, o efetivo da Polícia Militar foi reforçado.
De acordo
com o jornalista Davidson Samuel, que mora em Itabuna, pólo regional
situado a 16 quilômetros de Buerarema, e trabalha em toda a região, as
autoridades precisam agir com urgência a fim de tentar pacificar os
ânimos e evitar uma tragédia iminente.
O clima aqui é de muita
tensão. Acredito que, se os governos não encontrarem uma forma de
atender ao que os índios e o que os produtores pedem, isso pode acabar
em morte. A manifestação da sexta-feira foi muito violenta e, de sexta
para sábado, um ônibus que ia de Guararema [outro município baiano] para
Buerarema foi incendiado, contou o jornalista.
Líder do governo
na Câmara Municipal, o vereador Elio Almeida (PDT) também não acredita
que a mera presença da Força Nacional seja capaz de conter o conflito.
Para ele, outras medidas têm que ser implementadas rapidamente.
A
meu ver, os protestos não vão parar se os índios não deixarem as
fazendas ocupadas. E se o governo decidir criar a área indígena, vai ter
que indenizar os produtores que têm títulos de propriedade
regularizados - a exemplo do que está discutindo em Mato Grosso do Sul,
comentou Almeida. Ele disse que as providências têm que ser urgentes. A
solução, seja lá qual for, tem que ser para ontem, porque a população
está revoltada. As fazendas ocupadas pertencem a pequenos produtores,
que não têm outra opção a não ser lutar pelo que é deles.
O
vereador alegou que os índios não são da localidade. Até há pouco tempo,
não havia índios em Buerarema. Eles foram trazidos de outros locais
próximos, como Ilhéus, nos últimos anos. E vêm sendo atendidos em tudo.
Tudo o que os líderes do grupo pedem, o governo estadual atende, senão
eles se reúnem e ocupam uma área qualquer, acrescentou.
A Agência Brasil
ainda não conseguiu conversar com o líder do grupo indígena, Babau
Tupinambá, e nem com o coordenador técnico local da Fundação Nacional do
Índio (Funai), em Ilhéus.
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