sábado, 20 de abril de 2013

História contadas no Araripe Informado: 99 anos que tropas de Juazeiro do Norte depuseram o governador do Ceará


Mergulhando na história, o Araripe Informado Extraiu do Site Miséria a lembransa do povo cearense que neste sábado (20) celebram a passagem de 99 anos que tropas juazeirenses lideradas por Floro Bartolomeu da Costa, após ocupar o Crato, entra triunfalmente em Fortaleza quando depuseram o governo Franco Rabelo. Na sua mais recente edição, a Revista Costumes traz ampla matéria sobre o assunto escrita pelo jornalista Demontier Tenório, destacando a proximidade do centenário desse feito heróico. Eis o que divulgou a revista:

Como pode uma cidade com apenas três anos de fundação se impor contra um verdadeiro arsenal, contingente e as tecnologias da época para derrubar um governador?. Você já imaginou uma guerra na qual o canhão se volta sozinho contra sua própria tropa e mata vários contendores?. Essa história é verdadeira, aconteceu no sertão do Ceará e está prestes a completar 100 anos. Para alguns, autêntico milagre do Padre Cícero Romão Batista, enquanto outros enxergaram apenas como um desastre.

O palco do fato inusitado foi Juazeiro do Norte, uma terra marcada pelo misticismo, cuja ordem na época era destruir a cidade, degolar o sacerdote e levar sua cabeça à presença do então presidente do estado do Ceará, Coronel Franco Rabelo. O recém lançado filme “Sedição de Juazeiro” do diretor Jonasluis da Silva de Icapui conta essa história quase 100 anos depois. Já no seu livreto de cordel intitulado “O canhão que atirou do contra”, o poeta Abraão Batista verseja os fatos em 48 páginas e a Revista Costumes pinçou alguns:

Franco Rabelo mandou
Na primeira expedição
240 homens
Com bastante munição
Entre vinte mil cartuchos
E dinamite pra explosão.

Quando Padre Cícero soube,
O seu povo convocou,
Dentro de uma semana
Toda a cidade cercou
Com valados e trincheiras
Como ele imaginou.

Vou matar o Padre Cícero
Com sua turma maldita
Quero a cabeça dele
Amarrada numa fita
Enfiada numa estaca
Bem vistosa e bonita.

Um canhão foi moldado
Com toda divulgação,
Na praia de Iracema
Fizeram recepção
Experimentando o bicho
Com toda sua explosão.
Muitos que visitam o Memorial Padre Cícero desconhecem a história do canhão (Foto: Demontier Tenório/Agência Miséria)


Na verdade, o sentimento de união dos romeiros combatentes e a construção de um enorme valado em torno de Juazeiro foram preponderantes no chamado movimento sedicioso de 1914, mas a “traição” do canhão teve sua meritória importância além de um fato pitoresco e dubiamente trágico-cômico. Assim, as tropas do estado terminaram derrotadas em solo caririense no dia 22 de janeiro de 1914 e os vitoriosos romeiros depuseram o governo Franco Rabelo com a ajuda do canhão “amigo da onça”, cuja saga foi assim descrita pelo poeta João de Cristo Rei no seu cordel “História da guerra de Juazeiro em 1914”:

Armaram contra os romeiros
Um canhão grande demais
Porém quando detonaram
O estampido voraz,
A peça rodou o pé
Deu o tiro para trás.

Noventa e cinco por cento
Dessa vez se liquidaram
Os que ficaram com vida
Ao Rabelo então mandaram
Pedir novos batalhões
Que sem demora chegaram.

Quando suspenderam a luta
Meu Padrinho saiu fora
E disse: — Daquele fogo
Vocês escaparam agora,
Foi coberto com o manto
Da Virgem Nossa Senhora

Milagre ou não, o velho canhão é uma das peças expostas no museu do Memorial Padre Cícero e desperta a curiosidade de muitos que ali comparecem mesmo sem conhecer os fatos. No dia 22 de julho de 2011 Juazeiro do Norte comemorou a passagem do centenário de emancipação política e ainda se esforça para guardar fielmente sua história dividida com a do Padre Cícero. Todavia, o sacerdote é a temática principal se constituindo no foco de outros dois museus do município.
Visitação de romeiros ao Memorial Padre Cícero (Foto: Demontier Tenório/Agência Miséria)


O mais antigo foi montado na residência onde o mesmo faleceu na Rua São José no caminho entre a Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores e a Capela do Socorro em cujo altar-mor teve o corpo sepultado. Neste, a principal atração é a cama na qual o religioso morreu no dia 20 de julho de 1934. Ali estão ainda seus livros e o fascínio dos romeiros é percorrer todos os cômodos da “casa de meu Padim” começando pelo quarto onde ele prometeu que, nos céus, rogaria por todos.

O outro já foi inaugurado mais recentemente no dia 1º de novembro de 1999 no alto da Colina do Horto. O Museu Vivo ganhou lugar no velho casarão que o sacerdote utilizava em seus retiros espirituais dos fins de semana. O misticismo também está presente a partir de um local na parede do imóvel onde, segundo quem conviveu com o “padim”, o mesmo colocava curiosamente o seu chapéu mesmo sem ter um cabide ou outro instrumento de sustentação.

Na cozinha do museu enormes filas se formam em torno de grandes potes de água servida a estes que acreditam ser benta. Da mesma maneira, o fascínio em percorrer os cômodos antes palmilhados por Padre Cícero. Há pouco mais de 10 anos, uma atração a mais que é encontrar imagens do sacerdote em resina de poliéster no percurso dessa “trilha” remontando cenas do cotidiano. Logo na sala de estar, o religioso rezando em um oratório da época. O quarto original dele o traz deitado numa rede.

No gabinete, despacha com o seu amigo e um dos líderes do movimento emancipacionista de Juazeiro, José Marrocos. Já na mesa de uma sala toma café com os amigos Floro Bartolomeu da Costa e Aureliano Pereira ao lado da beata Mocinha e a governanta conhecida como Tereza do Padre. Por fim, em uma capela, Padre Cícero e a beata Maria de Araújo protagonista dos famosos “milagres” quando, em 1889, a hóstia se transformou em sangue na sua boca.

Pelas mãos do advogado Carlos Eduardo Pereira de Almeida, os três museus ganharam um livro no segundo semestre de 2012 intitulado “Museu Casa Padre Cícero” no qual destaca a importância desses equipamentos para perpetuação da história e uso didático. O escritor chega a considerá-los como os mais visitados do Brasil em sua temática religiosa existindo algo comum nos três que são os ex-votos depositados pelos romeiros após alcançarem graças em promessas feitas com o Padre Cícero. (Fonte: Miséria)

Postado aqui por: Ernildo Arruda (Historiador)

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