domingo, 5 de maio de 2013

Bancada da bala, a força do voto que o mandato não consegue confirmar


O medo de ser assaltado e o receio de se tornar a próxima vítima de um homicídio levam milhares de eleitores a, a cada dois anos, depositarem na urna a esperança por dias mais tranquilos. Não à toa, no Ceará e a na maior parte do País, milhares de votos vão parar em policiais, delegados e apresentadores de TV que se identificam com o debate sobre a violência. Donos de um nicho político disputado, eles sobrevivem do tema. Entretanto – e talvez por isso – a contribuição efetiva no combate a essa chaga costuma ser questionável.

No cenário cearense, três vereadores, três deputados estaduais e um federal formam a chamada “bancada da bala”, que recebeu quase 300 mil votos nas eleições de 2010 e 2012. No último pleito, o capitão da Polícia Militar Wagner de Sousa (PR) tornou-se o vereador mais bem votado da história de Fortaleza, com 43,6 mil votos. No Rio de Janeiro, o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, é personagem cortejado pelos partidos para uma possível candidatura a governador.

Com o discurso voltado para os feitos e mal feitos do Estado na luta contra o crime, esse grupo ganha cada vez mais peso político. O problema é que vários fatores comprometem a qualidade e o efeito do debate.

Um deles é a inevitável “contaminação política” das discussões, tanto por parte de aliados quanto de opositores. No Ceará, a violência é ponto nevrálgico do Governo Cid Gomes (PSB), aspecto que interfere no tratamento dado pelo Legislativo ao tema. “Esse assunto desestabiliza o Executivo. Como a base de apoio dele é muito grande, muita coisa deixa de ser questionada”, criticou o deputado estadual de oposição Heitor Férrer (PDT).

O pedetista é autor de um requerimento de audiência pública para discutir o aumento da criminalidade, rejeitado, este ano, pela Comissão de Defesa Social da Assembleia. Perguntado sobre a negativa, o presidente da Comissão, deputado Delegado Cavalcante (PDT), alega possível motivação política do pedido do colega. “Ali não era uma coisa técnica, era partidária”, justificou.

Outro fator considerado negativo é o atrelamento dos debates e decisões a crimes de forte comoção social, bastante divulgados pela mídia. “Como a população está muito preocupada, quer soluções imediatas. Então aparecem alguns políticos propondo saídas mirabolantes. Para nós, sociólogos, o apelo social no debate complica a situação”, afirmou o coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará, César Barreira, que é ex-diretor da Academia Estadual de Segurança Pública do Governo Cid.

Essas e outras particularidades fazem com que, de forma geral, a contribuição do Legislativo para o combate à violência saia prejudicado, seja na produção de leis (ver infográfico abaixo), seja na fiscalização ou no acompanhamento do problema.

Fonte: O Povo 

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