Em Brasília, manifestantes conseguiram invadir a área externa do Congresso Nacional
Milhares de pessoas invadem as ruas nos protestos que se espalharam por ao menos 13 capitais
A
reação ofensiva policial em São Paulo na última quinta-feira
desencadeou uma série de mobilizações por todo o país e fora dele. Além
de Brasília, 12 capitais brasileiras foram palco de manifestações, entre
elas o Recife. No Rio de Janeiro, a maior de todas, cerca de 100 mil
pessoas se reuniram na Avenida Rio Branco e alguns manifestantes
chegaram a atear fogo um carro na Assembleia Legislativa. Em São Paulo
viveu ontem o quinto ato contra o aumento nas tarifas do transporte
público. cerca de 65 mil o número de manifestantes. As ruas de Belo
Horizonte, de Curitiba, de Belém e de Porto Alegre também foram tomadas
por milhares de pessoas (ver quadro).
Rio
Roupa branca e
flores na mão. O uniforme escolhido para o encontro indicava um
protesto exemplar, pacífico e sem qualquer sinal de vandalismo. Durante
três horas, a presença de 150 policiais do Rio de Janeiro foi necessária
apenas para acompanhar a passeata que partia da praça da Candelária, no
centro da cidade. Por volta de 20h, porém, um grupo se dispersou do
principal e iniciou uma das manifestações mais agressivas da noite. O
alvo foi a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que acabou
depredada, assim como bancos e lojas. Manifestantes ainda atearam fogo
em um veículo do lado de fora do prédio, o que causou uma reação
policial e a chegada do Batalhão de Choque.
De 17h até 19h55, a
imagem da manifestação na capital fluminense era de paz. Integrantes do
protesto vaiavam os que motivavam o vandalismo e exibiam cartazes
repreendendo ações violentas. Além de reclamar do aumento de preço das
passagens, eles exibiam cartazes contra o governador Sérgio Cabral, o
prefeito Eduardo Paes e a presidente Dilma Rousseff, que foi
representada por uma boneca vestida de presidiária.
Aos poucos,
um número menor de rebeldes se afastou rumo à Alerj, que passou a ser
atingida por pedras, fogos de artifício e bombas caseiras. Cerca de 50
policiais que cercavam o prédio dispararam balas de borracha, bombas de
gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra os manifestantes, em seguida,
se abrigaram dentro da assembleia.
De acordo com a PM, pelo
menos 20 agentes ficaram feridos por horas sem atendimento dentro do
prédio porque os bombeiros tiveram dificuldade de acessar o local.
No
auge do tumulto, às 20h30, um veículo estacionado ao lado da Alerj foi
virado de cabeça para baixo e incendiado em seguida, dando início à
correria. Bombeiros foram acionados para conter o fogo e desligaram os
postes de energia da região. Outros ativistas espalharam lixo pelas
ruas, pixaram paredes, quebraram vidros e equipamentos, e arrombaram
lojas, agências bancárias e cartórios. Até as 22h30, policiais militares
continuavam encurralados na assembleia e a Polícia de Choque ainda não
havia sido acionada. O presidente da Alerj, Paulo Melo (PMDB), condenou o
que chamou de ato de vandalismo no prédio público. Quanto um ato agride
ou coloca pessoas em risco, deixa de ser democracia para virar uma
anarquia, uma baderna, as pessoas vão embora, mas os baderneiros ficam,
afirmou.
Por volta de 23h, cerca de 100 pessoas conseguiram
invadir o prédio e colocaram fogo em uma porta da assembleia, enquanto
outros manifestantes continuavam jogando pedras e objetos pesados. De
acordo com a Secretaria de Saúde do Rio, até esse horário, sete pessoas
feridas haviam sido levadas para o Hospital Souza Aguiar, no centro da
cidade.
São Paulo
Embora a manifestação de ontem na
capital paulista tenha sido a maior desde o primeiro protesto, em 6 de
junho, também foi a mais pacífica. O ato começou às 17h e, no decorrer
da passeata, os manifestantes ocuparam locais de grande movimentação,
como a Avenida Paulista, palco de um dos principais confrontos entre
policiais e manifestantes na semana passada, e também a Marginal
Pinheiros. As vias foram bloqueadas e o trânsito ficou complicado.
(Júlia Chaib e Juliana Colares)
Mobilização pelas redes sociais
Organizadas
pela internet, as manifestações que tomaram conta do Brasil ontem
passaram o dia no topo da Trend Topics mundial uma lista dos assuntos
mais comentados na rede. A exemplo da Primavera Árabe, como ficou
conhecida a revolução que se espalhou por 14 países e derrubou ditadores
e presidentes a partir de 2010, no Brasil, grupos insatisfeitos se
organizaram em redes sociais para protestar contra os preços das
passagens de ônibus, a qualidade dos serviços públicos, o aumento do
custo de vida e a PEC 37, que pode retirar poderes do Ministério
Público. No Twitter, destaque para #VerásQueUmFilhoTeuNãoFogeALuta,
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