Ao som de 'Eu acredito', mais de 56 mil atleticanos sofrem e vivem diferentes emoções antes de chegar ao sonhado título da Libertadores
A chegada dos atleticanos ao Mineirão começou cedo. Por volta das 16h de quarta-feira, os primeiros torcedores já se aglomeravam nos bares próximos ao Gigante da Pampulha. Com o passar do tempo, as ruas foram sendo tomadas. Cerca de uma hora e quarenta minutos antes do jogo, aconteceu o ápice da festa fora do estádio. A "rua de fogo" - feita com inúmeros sinalizadores e que se tornou marca registrada na chegada do time ao Independência - foi reproduzida no Mineirão. Ao lado dela, inúmeros foguetes, rojões e bombas davam o tom do que estava por vir com a bola rolando.
Minutos antes da partida, os quase 62 mil lugares já estavam tomados pelos torcedores alvinegros, sendo mais de 60 mil do time da casa, e cerca de 1.500 da equipe paraguaia. O grito "Eu acredito” virou um mantra atleticano e foi o primeiro a ecoar com força no estádio. Como resposta, os torcedores rivais exibiam orgulhosos uma camisa do arquirrival mineiro, o Cruzeiro, além de um frango de borracha, para satirizar o símbolo do Galo.
Com a bola rolando, o primeiro “uuuuhhh” veio logo no começo, quando Jô quase empurrou para a rede um chute cruzado de Tardelli. A animação e pressão da torcida continuaram, com direito a bronca no árbitro e apitaço quando o rival tinha a posse de bola.
Mas o tempo foi passando, o jogo ficou difícil, e o fôlego da maioria diminuiu. Bastou a torcida do Olimpia cantar o seu tradicional “Ilariê” para ouvir a resposta com gritos de "Galo", o que ressuscitou torcida e jogadores. Ronaldinho, de cabeça, levou perigo ao gol adversário.
A partir daí, mais silêncio, nervosismo dentro e fora de campo e muito apito. O sopro era o som do estádio em forma de respiração.
Novamente foi preciso um momento de apreensão para que a torcida voltasse a gritar. O ídolo Tardelli deu mostras de sentir um problema no tornozelo. A torcida fez sua parte e gritou o refrão criado para o camisa 9: “Taaaardeeeelli, gol, gol.”
Com o 0 a 0 arrastado até o fim dos primeiros 45 minutos, o mantra “Eu acredito” voltou a ser entoado diante de uma grande festa dos pouco mais de mil torcedores visitantes.
Sorte de campeão?
Na volta do intervalo, nem deu tempo de os atleticanos ensaiarem novos gritos ou puxarem um coro já conhecido dos jogadores. Bastou o grito de gol. Jô, que por vezes na primeira etapa se atrasou um pouco em alguns lances, nem precisou acelerar. Ele contou com uma furada incrível na área para balançar a rede e fazer o torcedor do Galo explodir em festa.
A euforia tomou conta do estádio. Mas era preciso, ao menos, mais um gol. A torcida pediu, suplicou. Mas em vão. O Olimpia sentiu o golpe, mas rapidamente se refez e continuou a defender com competência.
Quase inerte diante do jogo duro a que era obrigada a acompanhar, a massa atleticana de quase todos os 58.620 presentes só reagia quando os hinchas esboçavam apoio ao time guarani.
A glória máxima dos fiéis atleticanos foi valorizada na parte final do jogo, quando Leonardo Silva tocou de cabeça e obrigou os milhares de corações acelerados a aguentarem mais 30 minutos de prorrogação. A essa altura, o Galo estava com um jogador a mais, já que pouco antes do segundo gol Manzur recebera o cartão vermelho.
Voz da massa e silêncio
Chegou a hora dos 30 minutos finais. Empolgada, a torcida fez sua parte e cantou durante quase todo o tempo. Em campo, o time fez como Bernard havia prometido: buscou forças onde tinha e não tinha. A cada chance perdida os gritos de “uuuhhh” e “eu acredito” ecoavam pelo estádio, mas, quando o árbitro apitou o fim da prorrogação e a decisão foi para as cobranças de pênaltis, o que imperou foi o silêncio.
A voz de Deus
Logo de saída, o goleiro Victor deu vantagem ao time mineiro e voltou a ouvir “p.... é o melhor goleiro do Brasil”. Mas a cada cobrança em que a bola balançava as redes o grito insistia em ficar preso na garganta.
Quando Gimenez perdeu a sua cobrança ao mandar a bola na trave, o grito de campeão se misturou ao choro e ao suspiro que deu fim a um jejum de 42 anos sem um título absolutamente indiscutível.
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