SÃO PAULO e RIO - Foragido da Justiça há três anos e condenado a 278 anos de prisão por 52 estupros contra 39 mulheres, o ex-médico Roger Abdelmassih foi preso ontem em Assunção, no Paraguai, onde vivia, com a mulher e dois filhos gêmeos de 3 anos. Ele foi preso pela polícia paraguaia, em ação acompanhada pela Polícia Federal brasileira. O ex-médico e deverá chegar hoje a São Paulo.
Segundo autoridades paraguaias, Abdelmassih e a mulher viviam em uma luxuosa residência no bairro San Cristóbal, na capital daquele país. O ex-médico, que abusava de suas vítimas quando elas estavam anestesiadas durante sessões de inseminação artificial, estaria há alguns meses no Paraguai e, antes, teria passado por países da Europa e do Oriente Médio.
Documentos apreendidos em uma fazenda que pertencia ao ex-médico em Avaré, no interior de São Paulo, e interceptações telefônicas realizadas com autorização da Justiça levaram o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) à informação de que Abdelmassih estaria em Assunção. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) autorizou o compartilhamento dos dados à Polícia Federal, que conduziu a investigação em parceria com autoridades do país vizinho.
IMIGRANTE ILEGAL
O foragido foi localizado por volta de 13h de terça-feira, perto da escola onde ia deixar os filhos, junto com a mulher, Larissa Sacco, ex-procuradora da República. Ele foi detido enquanto dirigia seu automóvel. Segundo autoridades do Paraguai, o ex-médico vivia como imigrante ilegal no país, o que facilitou a sua deportação imediata para o Brasil.
O MP paulista havia instaurado procedimento de investigação contra pessoas do círculo de convivência do ex-médico, suspeitas de cometer crimes para ajudá-lo na fuga, como favorecimento pessoal, falsidade ideológica, falsidade material e lavagem de dinheiro. Foi no âmbito desta investigação, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP em Bauru, no interior de São Paulo, que se descobriu o paradeiro do acusado. O procedimento tramita com segredo de Justiça.
— Aqueles que eventualmente tenham praticado crime de falsidade ideológica, por exemplo, poderão vir a responder na Justiça. O procedimento tem continuidade para apurar se isso aconteceu — disse o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Márcio Elias Rosa, para quem a fuga de Abdelmassih era “evidente manifesto de descaso com a Justiça, não bastasse a gravidade das condutas em face de suas vítimas”.
O ex-médico foi denunciado pela primeira vez em 2008 por uma ex-funcionária, que disse ter sido agarrada por ele. Em função da primeira denúncia, dezenas de pacientes, com idades entre 30 e 40 anos, disseram também ter sido molestadas na clínica do médico, quando estavam sozinhas e, por vezes, após serem sedadas.
A enxurrada de denúncias levou Abdelmassih a ser preso em agosto de 2009, em sua clínica no Jardins, zona nobre de São Paulo. No entanto, quatro meses depois, ele obteve o direito de responder ao processo em liberdade, graças a um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob a alegação de que ele não apresentava risco à sociedade e não demonstrava disposição de fugir. A defesa chegou a protocolar um pedido de retenção do passaporte do acusado como forma de demonstrar que ele não tinha intenção de sair do Brasil.
Em novembro de 2010, o ex-médico foi condenado a 278 anos de prisão por 52 estupros e quatro tentativas de abuso a 39 mulheres. Em janeiro do ano seguinte, a Justiça decretou novamente a prisão de Abdelmassih, mas ele não foi mais encontrado. O sumiço levou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e a Interpol a colocarem seu nome na lista de criminosos procurados pela Justiça.
O Ministério Público recorreu no Tribunal de Justiça de São Paulo da sentença condenatória em primeira instância, por entender que o acusado não deveria ter sido condenado à pena mínima para cada crime que lhe foi imputado.
— Tenho firme impressão de que haverá agravamento da pena, o recurso tem pertinência. A expectativa que tenho é que o julgamento ocorra rapidamente, e ele possa cumprir a pena, como qualquer condenado — disse Elias Rosa. Jornal Online Araripe Informado
Fonte: O Globo
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