O número
de mortos no incêndio que atingiu a boate Kiss foi revisado para 231.
Segundo a chefe geral de Perícia Médica do Rio Grande do Sul, Maria
Ângela Zucchecco, o número mudou porque alguns corpos tiveram a
identificação duplicada. Antes, a informação oficial era de 233 mortos.
No início da madrugada desta segunda-feira, 28, a Secretaria da
Segurança do Governo do Rio Grande do Sul divulgou uma lista atualizada
com as 231 vítimas identificadas no incêndio de Santa Maria. De acordo a
Agência Brasil, ao menos 101 dos mortos eram alunos da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), com base em lista anterior divulgada pelo
governo estadual.
Jovens que sobreviveram ao incêndio na boate Kiss contaram que seguranças tentaram impedir pessoas que tentavam sair da casa.
A
estudante de Administração Thaíse Brenner, de 24 anos, conta que estava
perto da porta da saída com uma amiga quando o tumulto começou. Ao
tentar sair, conta que foi impedida pelo segurança. "Ele queria que nós
fôssemos para outra fila pagar a comanda da festa e dizia que o incêndio
estava sendo controlado."
Thaíse e a
amiga então empurraram o segurança, que caiu. Só dessa forma
conseguiram escapar com vida. "Conseguimos passar debaixo das pernas
dele e fugimos da boate. Depois disso, várias pessoas nos seguiram",
conta a estudante, que diz ter sido uma das primeiras pessoas a saírem
da festa.
Outro
sobrevivente, o universitário Murilo de Toledo Tiecher também comentou
em sua página no Facebook que, no início do incêndio, seguranças
tentaram segurar as portas para que as pessoas não saíssem.
"Que
fique registrado: eu fui um dos 50 primeiros a sair. No início do
tumulto, tentaram segurar as portas com os seguranças e manter as
pessoas ali pra que não saíssem da boate! Não sei se pensavam que era
uma briga e não queriam que saíssem sem pagar. Só depois que a multidão
derrubou os seguranças é que viram a merda que fizeram. Todo mundo viu
isso aí." / CAMILA CUNHA, ESPECIAL PARA O ESTADO
Sem saída de emergência e sinalização, 90% das vítimas morreram asfixiadas
Celulares tocavam o tempo todo em bolsas das meninas e bolsos dos jovens mortos, contou um dos bombeiros emocionado.
Uma única
porta, saída não sinalizada, escuridão, fumaça, falta de orientação e
pânico aumentaram a tragédia na boate Kiss, no centro de Santa Maria, na
madrugada de ontem. Os bloqueios no caminho fizeram com que 90% das 233
vítimas morressem por asfixia enquanto tentavam escapar, segundo
bombeiros. Poucos corpos foram queimados, mas muitos estavam cobertos de
fuligem.
O
desastre aconteceu com a casa cheia. Por volta das 2h30, a banda
Gurizada Fandangueira tocava no palco, durante a festa Agromerados. O
evento, organizado por alunos da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) reunia cerca de 2 mil pessoas, a maioria no primeiro ano de
Tecnologia de Alimentos, Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia,
Tecnologia em Agronegócio ou Pedagogia.
Segundo
testemunhas, durante o show, a banda usou um tipo de fogo de artifício
conhecido como "sputnik" ou "chuva de prata": faíscas prateadas saíram
de um pequeno morteiro no palco. Uma fagulha entrou no sistema de
exaustão e o fogo atingiu o teto do salão, baixo e feito de papelão e
material de proteção acústica. As chamas se espalharam rapidamente.
Testemunhas contam que o vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos
Santos, tentou apagar o incêndio com um extintor, que não funcionou.
Fuga. Em
pouco tempo, o público concentrado perto do palco percebeu o fogo e
começou a correr. Mas um curto-circuito apagou a luz. No escuro e sem
indicações de saída, muitos se perderam no caminho. Alguns foram parar
no banheiro.
O Plano
de Prevenção de Combate a Incêndio da Kiss estava vencido desde agosto,
segundo o comandante-geral do Corpo de Bombeiros gaúcho, coronel Guido
Pedroso de Melo. A casa também não tinha saída de emergência: só havia
um local de acesso, que funcionava como entrada e saída.
As
primeiras pessoas que chegaram a essa única porta acharam outra barreira
- os seguranças (veja ao lado). Mesmo após a saída ser aberta, ela não
foi suficiente para escoar todo o público. Bombeiros e voluntários
tiveram de quebrar as paredes da boate voltadas à Rua dos Andradas para
aumentar a passagem.
Resgate. A
via estreita e os carros estacionados atrapalharam o resgate. Ao
tentarem entrar, bombeiros se depararam com uma barreira de corpos logo
na porta - eram as vítimas que tentaram sair. "Soldados tiveram de abrir
caminho no meio dos corpos para tentar chegar às pessoas que ainda
agonizando", descreveu o comandante-geral Guido Pedroso de Melo. Muitos
celulares tocavam ao mesmo tempo - eram parentes e amigos em busca de
informações.
Pela
mesma porta, bombeiros e voluntários entravam para combater as chamas.
Aos poucos, os corpos foram sendo removidos e colocados na calçada. Até o
fim da manhã, todas as vítimas já haviam sido levadas ao Centro
Desportivo Municipal (CDM). Lá, foram organizadas por agentes do governo
estadual e colocados à disposição dos parentes que foram fazer o
reconhecimento das vítimas.
À noite,
suposto comunicado atribuído à administração da Kiss, publicado numa
página da boate no Facebook, comunicava "com pesar" o "acidente". Com
erros de português, a nota informou que os administradores estão à
disposição e funcionários tinham a "mais alta qualificação técnica".
Cinco oficiais da FAB morreram e um ficou ferido
Cinco
vítimas do incêndio na casa noturna Kiss, em Santa Maria, eram oficiais
da Força Aérea Brasileira (FAB). Eles trabalhavam na Base Aérea de
Santa Maria (BASM). A informação foi divulgada pelo Ministério da
Defesa, que informou ainda que um militar também ficou ferido e foi
atendido. Os nomes não foram divulgados, mas o oficial Leonardo Machado
de Lacerda constava da lista das vítimas. / JULIANA DEODORO
ARARIPE INFORMADO
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