segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

SANTA MARIA TRAGÉDIA NA "KISS" Seguranças da casa tentaram impedir saída das pessoas

O número de mortos no incêndio que atingiu a boate Kiss foi revisado para 231. Segundo a chefe geral de Perícia Médica do Rio Grande do Sul, Maria Ângela Zucchecco, o número mudou porque alguns corpos tiveram a identificação duplicada. Antes, a informação oficial era de 233 mortos. No início da madrugada desta segunda-feira, 28, a Secretaria da Segurança do Governo do Rio Grande do Sul divulgou uma lista atualizada com as 231 vítimas identificadas no incêndio de Santa Maria. De acordo a Agência Brasil, ao menos 101 dos mortos eram alunos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com base em lista anterior divulgada pelo governo estadual.
Jovens que sobreviveram ao incêndio na boate Kiss contaram que seguranças tentaram impedir pessoas que tentavam sair da casa.
A estudante de Administração Thaíse Brenner, de 24 anos, conta que estava perto da porta da saída com uma amiga quando o tumulto começou. Ao tentar sair, conta que foi impedida pelo segurança. "Ele queria que nós fôssemos para outra fila pagar a comanda da festa e dizia que o incêndio estava sendo controlado."
Thaíse e a amiga então empurraram o segurança, que caiu. Só dessa forma conseguiram escapar com vida. "Conseguimos passar debaixo das pernas dele e fugimos da boate. Depois disso, várias pessoas nos seguiram", conta a estudante, que diz ter sido uma das primeiras pessoas a saírem da festa.
Outro sobrevivente, o universitário Murilo de Toledo Tiecher também comentou em sua página no Facebook que, no início do incêndio, seguranças tentaram segurar as portas para que as pessoas não saíssem.
"Que fique registrado: eu fui um dos 50 primeiros a sair. No início do tumulto, tentaram segurar as portas com os seguranças e manter as pessoas ali pra que não saíssem da boate! Não sei se pensavam que era uma briga e não queriam que saíssem sem pagar. Só depois que a multidão derrubou os seguranças é que viram a merda que fizeram. Todo mundo viu isso aí." / CAMILA CUNHA, ESPECIAL PARA O ESTADO
Sem saída de emergência e sinalização, 90% das vítimas morreram asfixiadas
Celulares tocavam o tempo todo em bolsas das meninas e bolsos dos jovens mortos, contou um dos bombeiros emocionado.
Uma única porta, saída não sinalizada, escuridão, fumaça, falta de orientação e pânico aumentaram a tragédia na boate Kiss, no centro de Santa Maria, na madrugada de ontem. Os bloqueios no caminho fizeram com que 90% das 233 vítimas morressem por asfixia enquanto tentavam escapar, segundo bombeiros. Poucos corpos foram queimados, mas muitos estavam cobertos de fuligem.
O desastre aconteceu com a casa cheia. Por volta das 2h30, a banda Gurizada Fandangueira tocava no palco, durante a festa Agromerados. O evento, organizado por alunos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) reunia cerca de 2 mil pessoas, a maioria no primeiro ano de Tecnologia de Alimentos, Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio ou Pedagogia.
Segundo testemunhas, durante o show, a banda usou um tipo de fogo de artifício conhecido como "sputnik" ou "chuva de prata": faíscas prateadas saíram de um pequeno morteiro no palco. Uma fagulha entrou no sistema de exaustão e o fogo atingiu o teto do salão, baixo e feito de papelão e material de proteção acústica. As chamas se espalharam rapidamente. Testemunhas contam que o vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos Santos, tentou apagar o incêndio com um extintor, que não funcionou.
Fuga. Em pouco tempo, o público concentrado perto do palco percebeu o fogo e começou a correr. Mas um curto-circuito apagou a luz. No escuro e sem indicações de saída, muitos se perderam no caminho. Alguns foram parar no banheiro.
O Plano de Prevenção de Combate a Incêndio da Kiss estava vencido desde agosto, segundo o comandante-geral do Corpo de Bombeiros gaúcho, coronel Guido Pedroso de Melo. A casa também não tinha saída de emergência: só havia um local de acesso, que funcionava como entrada e saída.
As primeiras pessoas que chegaram a essa única porta acharam outra barreira - os seguranças (veja ao lado). Mesmo após a saída ser aberta, ela não foi suficiente para escoar todo o público. Bombeiros e voluntários tiveram de quebrar as paredes da boate voltadas à Rua dos Andradas para aumentar a passagem.
Resgate. A via estreita e os carros estacionados atrapalharam o resgate. Ao tentarem entrar, bombeiros se depararam com uma barreira de corpos logo na porta - eram as vítimas que tentaram sair. "Soldados tiveram de abrir caminho no meio dos corpos para tentar chegar às pessoas que ainda agonizando", descreveu o comandante-geral Guido Pedroso de Melo. Muitos celulares tocavam ao mesmo tempo - eram parentes e amigos em busca de informações.
Pela mesma porta, bombeiros e voluntários entravam para combater as chamas. Aos poucos, os corpos foram sendo removidos e colocados na calçada. Até o fim da manhã, todas as vítimas já haviam sido levadas ao Centro Desportivo Municipal (CDM). Lá, foram organizadas por agentes do governo estadual e colocados à disposição dos parentes que foram fazer o reconhecimento das vítimas.
À noite, suposto comunicado atribuído à administração da Kiss, publicado numa página da boate no Facebook, comunicava "com pesar" o "acidente". Com erros de português, a nota informou que os administradores estão à disposição e funcionários tinham a "mais alta qualificação técnica".

Cinco oficiais da FAB morreram e um ficou ferido

Cinco vítimas do incêndio na casa noturna Kiss, em Santa Maria, eram oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB). Eles trabalhavam na Base Aérea de Santa Maria (BASM). A informação foi divulgada pelo Ministério da Defesa, que informou ainda que um militar também ficou ferido e foi atendido. Os nomes não foram divulgados, mas o oficial Leonardo Machado de Lacerda constava da lista das vítimas. / JULIANA DEODORO

Mais de 100 mortos eram alunos de universidade


ARARIPE INFORMADO


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