segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Sem Prejuízo e sem Consciência


Agricultores Gaúchos vendem trigo contaminado para países pobres. Segundo a reportagem do Folha de S. Paulo a venda só foi feita para os países Nigéria, Vietnã, Indonésia e Filipinas porque no Brasil a legislação é ‘mais rigorosa’ e proíbe o comércio de produtos com a substância micotoxina, que é produzida por um fungo e pode causar náuseas, bem como afetar o sistema nervoso. É ressalvado na reportagem, que na da Europa e na América do Norte a proibição já é algo consolidado, é consensual. Visto que quando ultrapassado os limites aceitáveis da presença do fungo, o consumo é impróprio até para animais. Consenso na legislação brasileira também. O que mais chama a atenção na reportagem é a declaração do Presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul, de que “as condições de sanidade, de venda do produto, competem a quem compra.” É fato de que o que está em primeiro plano é o lucro, ou o não prejuízo. E não os indivíduos que irão consumir.
Quando está a se falar de negócios, de mercado, ou melhor de lucro, a consciência não entra em atividade. Na verdade pode se dizer que até entra, mas não o discernir universal ou aquela cosmo-ética. A ética das éticas, a ética em todas as instâncias. Ética universal! Fico pensando o dispêndio tido por filósofos que dedicaram-se muito tempo e vida para esclarecer sobre “o que é a ética” e porque o ser humano é um ser ético, ou porque deve ser. Segundo Mario Sérgio Cortella ética é “um conjunto de valores e princípios que os seres humanos usam para decidir três grandes questões da vida, que são: Quero, Devo, Posso?” Aplicação ao caso: quiseram vender o trigo contaminado. Pode ser vendido. Mas será que deveriam?
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, a princípio uma proposição que busca a paz universal, utopia (?), mas o que seria do ‘ser humano’ se ele não pudesse pensar o melhor diante do que está posto? Declaração que busca uma consciência universal, que pretende extinguir os conflitos étnicos, que pretende combater todo o tipo de segregação. A racial, política, social, de gênero, etc...
Onde está o espírito de fraternidade? Se não deve ser consumido por brasileiros porque é impróprio para a saúde, por que deve consumido por Nigerianos, Vietnamitas, Indonésios e Filipinos? Eles não são Seres Humanos? Não existe Direitos Humanos para eles?
É mais do que óbvio que este fato, a venda de produtos contaminados para países pobres além de ser de uma ética invertida, é contra princípios universais. É algo totalmente desumano. É imoral! Sabe-se dos efeitos que podem causar o consumo e mesmo assim tal produto é comercializado. O pior de tudo é que o comércio foi legitimado, justificado por um organismo de representação, Fersul. Com isso fica claro a insignificância da saúde humana e a priorização do lucro. Temos que estabelecer bases, princípios e valores para as relações de comércio do Brasil com outros países, isso, claro, se quisermos reconhecimento como um país que respeite a dignidade humana.
Fontes:
A saúde como garantia fundamental e a política pública como seu limite. http://www.mprs.mp.br/dirhum/doutrina/id537.htm. Acessado em: 03.01.2015.

Jornal Online Araripe Informado

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