sábado, 7 de dezembro de 2013

DRAMA DA FAMÍLIA DO POLICIAL CIVIL QUE ERA LOTADO EM ARARIPINA-PE E MORREU EM TERESINA-PI

Família diz que filho morreu por infecção hospitalar em Hospital de Teresina

Policial civil de 27 anos estava internado no Hospital São Paulo

Ainda com os olhos cheios de lágrimas e com a voz embargada, Maria Valdina relata o drama do filho Helio Quirino, policial civil de 27 anos, dias antes da sua morte, que aconteceu no dia 18 de outubro deste ano. A família acusa o Hospital São Paulo, onde o policial estava internado, de ter sido negligente e afirma que ele teve infecção hospitalar.
Segundo Maria Valdina, há dois anos, Helio Quirino teve meningite, mas fez o tratamento e foi curado. No entanto, teve que usar uma válvula que faria o trabalho de drenagem da água do cérebro para o abdômen. Ele conviveu com o equipamento sem maiores problemas e tinha uma vida normal, segundo a família. Tempos depois, a válvula entupiu e ele, que trabalhava como policial civil em Araripina, no interior de Pernambuco, teve que retornar para Teresina para fazer a troca.
A cirurgia aconteceu sem maiores transtornos. Hélio teve alta, voltou para casa. “Alguns dias depois, começou a se queixar de fortes dores abdominais. Voltou a ser internado no Hospital São Paulo. Passou sete dias tomando medicação e voltou para casa”, lembra a mãe. A calmaria durou pouco tempo e o policial voltou a relatar problemas e teve que ser, novamente, internado. “Meu filho sentia febre alta, delirava. Questionávamos o porquê aos médicos e enfermeiros e não obtínhamos respostas”, reclamou o pai, Braz Sousa Filho.
Desse dia em diante a família viveu momentos de angústia. O quadro de saúde de Hélio não estabilizava e os problemas só se agravaram. O paciente chegou a ser levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital. Na terceira internação foram dois meses e 17 dias. Até que o Hospital entrou em contato com a família para informar a morte do paciente.
No atestado de óbito a causa da morte informada era “meningo-encefalite bacteriana, derivação ventricular e hidrocefalia, sequela de meningite tuberculosa”. “Recebemos meu filho em um saco e fomos proibidos de abrir o saco porque disseram que isso representaria riscos por conta da infecção que ele estava. Mas se ele pegou infecção foi no Hospital. A causa da morte que consta no atestado informa que ele morreu de meningite, mas ele não tinha mais meningite há dois anos”, relata a mãe, lamentando não ter tido a oportunidade nem mesmo de velar o filho.
No período que ficou internado, Hélio chegou a fazer sete cirurgias, segundo relatou a família. “Muitas delas sequer fomos comunicados. O que vimos muito foi negligencia por parte do Hospital. Tinha fezes nas unhas do meu filho. Ele estava delirando e foram dar a comida a ele em uma colher descartável. Ele comeu a colher”, criticou a mãe.
Fotos:Elias Fontenele/ODIA
As reclamações da família são ainda maiores porque até agora, ainda não tiveram acesso ao laudo da terceira internação de Hélio. “Conseguimos os laudos da primeira e da segunda internação. Da terceira, que é quando me devolveram meu filho morto, o Hospital se recusa a nos repassar. Quero provar que houve negligência e que meu filho pegou infecção hospitalar lá no Hospital”, frisa Maria Valdina, adiantando que a família já acionou o Ministério Público Estadual para forçar o Hospital a fornecer o laudo. “Quero provar que meu filho foi infectado no hospital. Não é o primeiro caso. Queremos chamar atenção das autoridades para fiscalizar esses hospitais para que outras pessoas não sejam vítimas de situações como essa”, diz Valdina. 
Hospital nega negligência e diz que paciente já chegou com infecção
Procurado pela reportagem do O DIA, a Direção do Hospital São Paulo rechaçou as denúncias feitas pela família. Segundo relatório apresentado pelo Diretor Clínico do Hospital, Paulo Cortellazzi, o paciente foi submetido a todos os procedimentos médicos recomendados pelo neurocirurgião, clínico geral e infectologista. Cortellazzi afirmou ainda que o paciente já deu entrada no Hospital com quadro infeccioso.
O diretor explicou que Hélio Quirino deu entrada no Hospital no dia 30 de agosto com um quadro de dor abdominal, vômitos e febre, após ter realizado, em outro Hospital, uma cirurgia neurológica com implante de DVP há 21 dias da internação no Hospital São Paulo. A cirurgia foi necessária devido a complicações de uma meningite tuberculosa. “Foram requisitados todos os exames necessários. O infectologista solicitou alguns exames que demonstraram que o mesmo não possuía síndrome infecciosa, apenas uma infecção localizada. O tratamento instituído com antibióticos para o paciente obteve sucesso e o mesmo recebeu alta hospitalar em boas condições, dentro do seu quadro basal”, diz.
No entanto, o paciente teve que ser reiternado no dia 10 de setembro, relatando as mesmas queixas da internação anterior. O cirurgião geral sugeriu a realização de um exame videolaparascópico para elucidar o caso tendo em vista que os sintomas retornaram. “O material colhido nesse procedimento mostrou um abcesso pélvico. Foram realizados culturas e iniciados antibióticos para tratamento do quadro. O mesmo apresentou boa evolução do quadro abdominal, porém cursou com uma nova meningite, quadro possível a todos os pacientes que possuem DVP”, argumentou Cortellazzi.
Ainda, segundo ele, após a constatação, o neurocirurgião optou pela troca de DVP e nova avaliação infectológica que manteve antibioticoterapia baseada nas culturas colhidas. O Hospital alega que todas as condutas possíveis foram tomadas, mas ainda assim o paciente apresentou uma parada cardiorrespiratória que mesmo após manobras de reanimação não apresentou sucesso, levando o paciente ao óbito. “É importante salientar que o paciente, desde a primeira vez que procurou o serviço já tinha um histórico de infecção (meningite) e um quadro abdominal infeccioso, além de uma DVP que, por si só, já configura um fator de risco para possíveis infecções no sistema nervoso”, frisou o diretor Clínico.
Sobre as denúncias de que o Hospital estava se negando a entregar o prontuário à família, o diretor Clínico argumentou que essa é uma orientação do jurídico em casos de óbito. “O prontuário é um documento pessoal e sigiloso que é de posse do paciente. Se ele vem a óbito, a orientação é de que a família solicite o documento pela via judicial, para evitar que seja dados uso indevido ao documento”, finalizou. 

Repórter: Mayara Martins-JornaIODIA

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