Descoberta de novos riscos envolvendo implantes nos seios ocorre cinco anos após o escândalo das próteses da marca francesa PIP
Um estudo realizado pelo Instituto do Câncer da França, divulgado nesta
terça-feira (17), revela que implantes nos seios podem causar um tipo
raro de tumor no sistema linfático. Em razão das conclusões dos
especialistas, o governo francês estuda atualmente a proibição de
próteses mamárias no país.
Os pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (INC) da França
revelaram a existência de uma nova doença, o "linfoma anaplásico de
grandes células associado a um implante mamário (LAGC-AIM)" e propõe que
esse tipo de câncer seja incluído na classificação de doenças da
Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Existe uma relação claramente estabelecida entre o surgimento dessa
doença e o uso de um implante mamário", diz o relatório do instituto
francês. "Esse tipo de câncer não foi diagnosticado em nenhuma mulher
sem próteses nos seios."
Os oncologistas franceses estimam que o risco desse linfoma nas
mulheres com implantes mamários é 200 vezes maior do que na população
feminina em geral.
Eles ressaltam, no entanto, que a frequência dessa complicação médica é
muito baixa. Desde 2011, apenas 18 mulheres desenvolveram esse tipo de
câncer na França (uma delas já morreu), segundo o INC.
Vigilância
O estudo foi realizado a pedido das autoridades francesas da área de
saúde após o rápido aumento de casos desse tipo de câncer em um período
relativamente curto.
Apesar do número de pessoas afetadas ainda ser bem limitado, o que
preocupa as autoridades é a velocidade da progressão: o total de novos
casos passou de dois em 2012 para 11 no ano passado.
A ministra da Saúde, Marisol Touraine, declarou nesta terça-feira que
as mulheres com implantes nos seios "não precisam retirá-los" e nem
devem ficar "excessivamente preocupadas". "Nossa vigilância é total",
disse a ministra, acrescentando que nenhuma marca de prótese mamária
está sendo visada especificamente em relação à descoberta desse novo
tumor.
Touraine também afirmou que as informações às mulheres que desejam colocar implantes nos seios será reforçada.
Alerta obrigatório
A Agência Nacional de Segurança do Medicamento (ANSM) da França já
anunciou que as mulheres que desejam colocar próteses nos seios deverão
ser "obrigatoriamente alertadas sobre esse novo risco, apesar de ele ser
baixo", afirmou, em entrevista ao jornal Le Parisien, François Hébert,
diretor-geral adjunto da agência.
Segundo ele, documentos informativos e alertas sobre a questão já foram
enviados aos médicos do país. "Se for necessário proibir os implantes,
nós o faremos", disse o diretor da ANSM.
A agência francesa realizará uma reunião com especialistas até o final
deste mês para decidir sobre o assunto. A eventual proibição das
próteses dependerá das conclusões dos pesquisadores.
"Os sinais são convincentes. Os casos aumentam. Estamos trocando
informações com a FDA (Food and Drugs Administration) americana", afirma
o professor Benoît Vallet, diretor-geral da Saúde, que determina as
políticas públicas francesas na área. "Os profissionais da saúde devem
ficar muito mais vigilantes diante desse risco. As mulheres que usam
próteses devem ser examinadas por um médico todos os anos."
Escândalo
A descoberta de novos riscos envolvendo próteses mamárias ocorre apenas
cinco anos após o escândalo das próteses da marca francesa PIP, que
chocou o país. Elas eram fabricadas com um gel de silicone não
autorizado para fins médicos e que continha aditivos de combustível não
testados para uso clínico.
A PIP era o terceiro maior fabricante mundial de próteses mamárias e exportava para inúmeros países, incluindo o Brasil.
Segundo a ANSM, cerca de 400 mil mulheres na França têm próteses nos seios, sendo 80% delas por motivos estéticos.
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